São 20:10 do dia 6, o dia do Hexa. Estou a caminho do sul fluminense, meu novo endereço. Amanhã começo definitivamente em meu novo emprego e tenho mil coisas para resolver. Mas como pensar nessas coisas, mudança, estrada, trabalho, fábrica e coisas assim depois da tarde que vivi? Passei um dos maiores perrengues da minha vida para entrar no Maracanã. Arquibancada vibrante, colorida e barulhenta. Que torcida linda, guerreira e apaixonada! É a maior do mundo mas é também a mais bonita.
Consegui um lugar nas arquibancadas verdes perto de 15:30 e o povo já estava de pé, cantando. E só cantaram exaltação ao Flamengo. Ninguém sequer ensaiou entoar as tradicionais músicas para provocar os rivais cariocas ou paulistas. Era dia de Mengão e só ele importava. Eu sabia que isso era um presságio de que algo muito bom estava a caminho. Quando nossos gladiadores entraram em campo eu me arrepiei inteira. O coro de “Mengão do meu coração” era uníssono, a Nação fazia a sua parte e entrava em campo junto com o time. E logo veio a certeza de que não seria nada fácil quitar essa fatura. Nada de entrega.Estávamos para enfrentar o Grêmio sem corpo mole. E o elenco do Flamengo… Muitos erros bobos, erros de passe, marcação deficiente.
Mas a você, leitor do Magia que ainda não conhece, vou me apresentar: tenho um quê de Poliana e tendo a ver sempre o lado positivo das situações. Essa profusão de erros só se explica com ansiedade e nervosismo. E isso me dá a certeza de esses moços são rubro-negros de coração. Nenhum jogador puramente profissional ficaria nervoso desse jeito. Faria sua parte do trabalho e dane-se o Maracanã lotado e o resto do mundo. Eles não. Queriam lutar e simplesmente não evoluíam. Não adiantava mandar bolas aéreas porque na área tricolor porque a zaga gremista ganhava todas as cabeçadas. Não conseguiam chutar uma bola de fora da área sem que ela explodisse em um dos homens de azul preto que se multiplicavam do nada a nossa volta. Não conseguiam evoluir com uma jogada porque os passes se perdiam no caminho ou sagazes larápios faziam a festa nas costas dos nossos jogadores desatentos e desconcentrados (arrisco dizer até que o Juan era o alvo preferido dos ladrões de bola, só ele não percebia isso).
Quando sofrimento… Aos 21 minutos, tudo começou a mudar: gol do Grêmio em uma bobeada homérica da zaga rubro-negra e, praticamente ao mesmo tempo, gol do Inter no Beira-Rio. Nesses breves instantes de silêncio no Maracanã, fez-se a luz em minha cabecinha desconexa: acabara-se ali o favoritismo. Naquele instante o Inter era o campeão brasileiro. Era oficialmente o fim da nossa alardeada vantagem. E a Nação bem sabe que na adversidade o Flamengo cresce. E a nova certeza que se assomou do meu coração: o Flamengo seria sim Hexacampeão Brasileiro. David empatou e Angelim virou. Grande Angelim! Um dos meus preferidos. O escolhido dos céus para estar ali e receber com categoria o escanteio cobrado pelo Pet. Eu chorava. Tremia e chorava. Novamente o caneco estava ali, ao alcance das nossas mãos suadas. Bastava sobreviver aos próximos intermináveis vinte minutos até o fim do embate.
Somos campeões, Nação! Fizemos uma campanha consistente, ganhamos confrontos diretos, aprendemos com nossos erros e lutamos até o fim! Nada de jogo fácil, foi suado até o fim. E ninguém vai ousar tirar esse mérito da gente! Agora lhes resta apegar-se à velha celeuma da Copa União de 87 para diminuir nossa história. Que percam o sono inventando verdades convenientes. Pura balela. Vão engolir vários argumentos toscos. Não vivemos do passado. Se gostavam de alardear que vivíamos das glórias do nosso passado, agora vão engolir um tempo presente de muita garra: indiscutível hegemonia carioca, uma Copa do Brasil e um Brasileirão. E alguém tem dúvida de que o futuro será ainda mais brilhante?
Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer. Se depender do Flamengo, morro feliz!
Texto publicado no Magia Rubro-Negra, aqui