Sim, eu sou uma pessoa musicalmente eclética e sim, eu sou sambista e sou roqueira. Muita gente não entende bem como isso acontece, mas eu lhes garanto que essas duas Cláudias convivem tranquilamente entre si há muito tempo. Mas tenho que reconhecer que em 2009 a roqueira está aparecendo muito mais do que a sambista. Acho que é meio óbvio: receber Iron Maiden em março e Kiss em abril aqui na Cidade Maravilhosa, na Praça da Apoteose (que é praticamente no meu quintal) foi um presente dos Deuses da Guitarra para mim. Obviamente esses dois eventos foram os pontos altos do ano. Fiquei deslumbrada com a viagem no tempo que o Iron nos proporcionou com seu show Somewhere Back in Time. E me transformei numa criança alucinada, juntamente com muitas crianças de verdade, que acompanhadas dos pais foram assistir ao show do Kiss e todo o mise-en-scene que se esperava dos caras que, graças às suas máscaras, não envelhecem.
Chegamos em maio e, para comemorar meu aniversário, mais rock’n roll: desta vez dos meus amigos do Elemento Surpresa que marcaram a data e o lugar do show praticamente por encomenda. De Alanis à Rush, passando por Legião e Bon Jovi, eles fizeram da minha festa um super show de rock! Conheci os rapazes do Elemento ano passado, quando faziam shows com mais frequência no Rio Rock & Blues Club – Lapa, lugar que virou um refúgio para a roqueira carioca um pouquinho carente que não tinha grandes opções para curtir um bom ambiente ao som das guitarras. Ali assisti de tudo um pouco em matéria de rock. Covers do Pink Floyd, Kiss, Scorpions, Lynard Skynard, entre outros. Vi até um show muito, mas muito legal do lendário Serguei. A Lapa ganhou mais um Rock Point ainda em 2008 com a inauguração, ao lado do Rio Rock, da Heavy Rock Pizzaria, do excelentíssimo Pamplona (gente boa com cara de mau), abrindo as portas para outras bandas se apresentarem entre os acessórios de motos espalhados por todo o lugar.
Voltei à 2008 porque o que está acontecendo agora no Rio só pode ser fruto da abertura e da subsequente estabilidade destas duas casas em pleno reduto carioca do samba. Não é que não houvesse “Rock in Rio”, mas tínhamos que procurar muito. Uma festa aqui ou outra ali, normalmente em dias úteis. Mesmo com os mega-shows do Rio não ficando lotados como eu bem gostaria, parece que os roqueiros cariocas são em número suficiente e com tal paixão que faz valer o investimento dos empresários da noite no segmento. E, assim, parece que é a região da Tijuca que desponta como uma espécie de pólo roqueiro. São 3 opções na região: duas na Praça da Bandeira e uma nas proximidades da Praça Vanhargem. Isso sem falar da sexta edição de um festival bem aqui, no América.
Falar de Praça da Bandeira é falar do Garage e do Heavy Duty. E você pensa que vem coisa nova? Claro que não! O Garage está renascendo, preparando para julho a sua grande volta como reduto tradicional do cenário underground carioca graças a uma parceria (pelo menos foi isso que eu entendi) com o pessoal do Grupo Matriz. Muitas bandas em início de carreira tinham no minúsculo e quente palco do Garage sua primeira grande oportunidade. Costumava-se dizer que o Circo Voador era coisa de filhinho de papai e que banda de rock que prestasse tinha que passar pelo Garage e agradar seu exigente público. Pois é. Nas idas e vindas da casa mais underground do Rio, sua “remodelagem” deve mantê-la no clima “alternativo” das bandas independentes. Espero. O Heavy Duty Beer Club, que já conquistou há um bom tempo seu lugar entre metaleiros e, principalmente, motoqueiros cariocas, só deve lucrar com a volta do Garage como player nesse tabuleiro do Rock. São vizinhos que se completam e somos nós quem ganhamos nas calçadas da Rua Ceará.
E a Tijuca? Fecha um tradicional bar português, povo reclama, diz que as coisas não são mais as mesmas, tá tudo abandonado, blá-blá-blá. Mas no fim, ganhamos um Calabouço de presente! Muito bom pra ser verdade! A caçula das casas de rock da região é um lugar fantástico que conheci na esta semana. E vou virar habitué. Pôsters e fotos e telão e frases espalhadas pelas paredes sobre o que é ser metaleiro. Músicas e clipes e shows e filmes e sinuca e todo tipo de roqueiro e roqueira passando pelo lugar. E excelentes preços. Nessa primeira visita, nenhum ponto negativo. Pode ir sem medo! E a Tijuca recebe ainda, pela terceira vez, o festival Metal JAM, no América Football Club. O que começou como uma festa de aniversário agora é um tradicional evento com nada menos do que 50 bandas cariocas de heavy metal. É só pagar (baratinho) pra ver.
Pra encerrar o testemunho de que o som das guitarras está sobressaindo ao dos tambores este ano, compartilho com vocês a minha mais nova mania semanal: ouvir o Máquina do Tempo. Minha semana não começa enquanto Leandro Bulkool e Ocktock não liberam a edição da semana. Trata-se de um podcast viajante, que nos convida a viajar no tempo – com DeLorean e tudo – e visitar a evolução do Rock’n Roll do decorrer dos tempos, desde os anos 50 até os dias atuais. Pura Enciclopédia. Vai lá.
Além de tudo o que escrevi, se confirmados os rumores e cogitações, ainda podemos ter Mettálica, ACDC e Faith no More esse ano por aqui… Haja pescoço!