Não era a época da altíssima conectividade tal como vemos hoje. Meu 1º de maio de 1994 teve uma manhã normal, com reunião do Clube de Castores de São João de Meriti de 9 as 11 (único compromisso que me fazia perder a transmissão de uma corrida de Fórmula 1) e volta pra casa para o almoço de domingo com a família. Não tinha internet, celular, twitter, nada disso. Velhos tempos.
Assim, ao chegar em casa, meu pai me chamou com formalidade e me deu a notícia do acidente com Ayrton Senna. Seu tom era grave e sério como se estivesse se referindo a alguém da família. Eu olhava para ele e para a TV sem entender direito o que acontecia. Não podia ser verdade, não o Senna. E o choro que começou naquele instante só pararia dias depois – junto com o resto do país.
Não é novidade dizer que o Brasil parava para ver Ayrton Senna passar. O tricampeão tornou-se mais uma inspiração esportiva adotada pelo povo (e reforçado pela mídia) para resgatar em seus corações “o orgulho de ser brasileiro”. A “briga” eterna entre os fãs de Senna e Piquet rendia discussões quase tão acaloradas quanto aquelas que aconteciam entre torcedores de Flamengo e Vasco. São inúmeros os momentos inesquecíveis de Senna na memória do brasileiro. Não à toa ele virou o “o rei da rua”, “o rei da chuva”, “o ‘Rei’ de Mônaco”. Ele tinha o carisma que nenhum outro piloto conseguiu demonstrar desde então. O Brasil ensaiou adotar herdeiros deste carisma em outras categorias esportivas e quase conseguiu com Gustavo Kuerten. Digo quase porque no fundo não era a mesma coisa. Não que os novos ídolos não sejam merecedores, mas arrisco dizer que enquanto tivermos as corridas de Ayrton Senna tão vivas em nossa memória, nossos corações estarão subconscientemente fechados. Talvez daqui a mais uma ou duas gerações estejamos prontos para um novo ídolo.
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