Uma amiga costumava dizer que o problema da humanidade seria o excesso de testosterona. Não concordo tanto assim, mas essa semana, por duas vezes, lembrei-me disso. Constatar o lado essencialmente podre da alma de alguns seres humanos me enoja.
A primeira foi ao ler este post da Nicole. Nica conta sua consternação ao perceber que na Inglaterra, se uma mulher bebe e usa roupas provocantes, é como se estivesse estimulando o próprio estupro. Lembram de Thelma e Louise? Seria aquela situação. É repulsivo perceber que impera um machismo velado e sistemático que dá aos homens um status de superioridade e, consequentemente, de impunidade. E digo “dar direito” bem consciente pois, uma vez que um crime não é punido, no meu entender, ele é estimulado. É desesperador ver que estamos falando de um lugar onde acesso à educação e informação não é necessariamente um problema. E se pararmos para pensar com bastante cuidado, veremos que a lei brasileira pode até ser bastante diferente nessa questão, classificando o estupro como crime hediondo, mas a nossa sociedade hipócrita pensa exatamente igual à londrina. É sempre a mulher que provoca.
A segunda foi ao conhecer o drama de uma mulher que, durante sua infância e adolescência, foi assediada por seu padrasto. Enquanto eu via casos assim na ficção, eu até parava para pensar, conjecturava, especulava, mas sem investir realmente muito tempo nisso. Logo me distraía e abstraía. Mas desde que ouvi a história dessa mulher não consigo deixar de pensar em outra coisa, de me colocar no lugar dela. Que doença é essa que assola um homem a ponto de fazê-lo preferir destruir a vida da família inteira que ele próprio escolheu e que o acolheu para ter desejos satisfeitos? O que lhe deu esse direito? O que as pessoas próximas poderiam fazer? O que a mãe dela poderia ter feito? O que se passou pela cabeça das duas? Pensando no assunto anterior, será que a sua mãe pensava que a menina estaria seduzindo o padrasto (convenientemente esquecendo que, até então, essa criança achava que ele era seu pai verdadeiro)? Por mais que eu pense, não tenho respostas. Ainda hoje ela enfrenta problemas por conta desse passado. Não me refiro a problemas psicológicos, mas a questões práticas, como convivência familiar. A única conclusão a que cheguei é que, além de vê-la como uma amiga dedicada, uma pessoa alegre, otimista, positiva e prestativa – como a conheci há algum tempo – hoje, a vejo como uma mulher forte e madura, que soube tirar lições dessas adversidades sem cair no lugar comum de deixar-se destruir bancando a vítima.
Infelizmente somos todos responsáveis por situações assim. Homens e mulheres, ainda que inconscientemente, legitimam tais situações. Porque queremos sempre apontar o dedo e julgar os outros e nunca a nós mesmos. Porque os problemas estão sempre na tela da TV ou nos outros, é a velha máxima do “isso nunca aconteceria comigo”. É fogo.
+++ Dia 25/11 foi o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher e o Nós da Rede levantou a bola.
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